Web Summit Rio 2024: destaques, lições e o que podemos aplicar das tendências em utilities

Inteligência artificial dominou grande parte das discussões do maior evento de tecnologia do mundo

Codex Utilities marcou presença na Web Summit do Rio de Janeiro, que aconteceu de 15 a 18 de abril na capital fluminense. Após a cobertura do evento para as redes sociais (confira alguns momentos na parte de Destaques no Instagram), neste artigo, reunimos alguns dos principais momentos e tendências em utilities da Web Summit, o maior evento de tecnologia do mundo.

Temas abordados no evento destacados aqui:

  • Energia, sustentabilidade e o marco de VEs na China
  • Painéis solares na Amazônia, desafios na transmissão e projetos sociais de saneamento no Nordeste e no Norte
  • Inteligência artificial: da estratégia ao resultado
  • Riscos e perigos da IA generativa para pessoas e empresas
  • Humanização do B2B e o Brasil no cenário tecnológico

Este ano, mais de 34 mil pessoas, de 102 países, assistiram a mais de 500 palestras de personalidades como Fábio Coelho, presidente do Google Brasil; Marcelo Braga, presidente da IBM brasileira; a empresária Luiza Trajano; o cantor Gilberto Gil e diversos especialistas de áreas como Inteligência Artificial, Negócios, Design, Varejo, Mídia e Utilities, claro. No total, 1066 startups de 42 países participaram, representando mais de 30 indústrias diferentes.

Energia, sustentabilidade e o marco de VEs na China

Dentro do escopo de tendências em utilities, a energia foi o segmento que teve mais destaque, tanto nas apresentações e painéis nos estandes de empresas dessa indústria quanto no espaço Energy, que ocupou com palestras um dos palcos do evento durante o último dia inteiro. Geração distribuída, emissão net zero, transição energética e energia limpa foram alguns dos principais temas.

Dominic Schmal, da EDP, abordou desafios do Brasil para a COP30 (Foto: Codex Utilities)

Dominic Schmal, diretor da EDP Brasil, destacou que a empresa pretende ser net zero até 2040. Ao falar sobre a COP 30, conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, que acontecerá em Belém (PA), em 2025, destacou os principais aspectos da transição energética justa.

Vulnerabilidade climática, cultura e capacitações, acesso à energia (A2E) e impacto social são os pontos de atenção, além da atuação junto a comunidades vulneráveis e acesso à energia limpa e acessível. “Cerca 40% das soluções para a descarbonização já existem, mas o que precisamos é que sejam implementadas”, alerta Schmal.

Na mesma discussão, Laura Albuquerque, da Future Climate, lembrou que “a mudança climática é intergeracional”. “Quando falamos de transição justa, incluímos as gerações que ainda estarão aqui. O impacto climático afeta a todos os setores e já vemos isso acontecendo”, afirmou.

Eduardo Ávila, da Revolusolar, no painel “Transição energética para todos: inovação de impacto social”, também da EDP, destacou que a transição energética justa também é uma “oportunidade de resolver injustiças históricas” e permitir que pessoas em vulnerabilidade possam se desenvolver, estudar, trabalhar e ter conforto térmico. Sua instituição foi a primeira a instalar cooperativas de energia solar em favelas no Brasil, e hoje conta com projetos no Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo, alguns deles em parceria com a EDP.

Tyler Li, presidente da BYD Brasil, fala do marco da nova frota chinesa de VEs (Foto: Web Summit Rio)

Ávila destaca que famílias que usam mais de 10% de seu orçamento com o pagamento da conta de luz são consideradas em “pobreza energética” e que os painéis e telhas com células solares não apenas barateiam o consumo, como também geram empregos, indo além do papel de apenas ser uma fonte de energia limpa.

eletrificação é vista como um passo fundamental para a transição energética e, do outro lado da moeda, uma das economias mais ricas do mundo, a China, acaba de ultrapassar o marco de 50% de sua nova frota de veículos como elétricos (VEs).

“É um momento histórico no mundo. É a primeira vez que os veículos de energia nova ultrapassam veículos ICE (motores de combustão interna a gasolina ou diesel)”, informa Tyler Li, presidente da BYD Brasil, no painel “Eletrificando o crescimento: explorando o boom do VE no Brasil”. Ele que acredita no potencial deste mercado, mesmo após as demissões em massa na Tesla e no setor de produção de VEs pelo mundo.

Painéis solares na Amazônia, desafios na transmissão e mais saneamento no Nordeste e Norte

Ainda em tendências em utilities com foco no setor energético, Óscar Antonio, da Cepel Eletrobras, apresentou um painel sobre como a energia renovável gerada por painéis solares está impactando positivamente comunidades indígenas na Amazônia. Ele lembrou que a região tem 70 mil famílias isoladas e sem acesso a luz e que 97% da energia produzida ali é por combustíveis fósseis, principalmente o diesel. “São os Sistemas Isolados. Enquanto isso, no resto do Brasil, temos o Sistema Interligado Nacional, no qual 87% da energia é gerada de forma limpa”, destaca.

Ele lembra que, por estar perto da linha da Equador, a incidência solar é alta, mesmo com a instabilidade climática da região. Pouco a pouco, a energia solar vai ocupando espaços nessas regiões, com baixo impacto para a natureza e eficiência no fornecimento local.

Juliano Dantas, VP de Inovação da Eletrobras (dir.), e João Marques, da EDP (esq.) no palco Energy (Foto: Codex Utilities)

No painel “O setor energético pode inovar a partir das mudanças climáticas?”, Juliano Dantas, VP de Inovação da Eletrobras, relembrou que boa parte da transição energética está se galgando em tecnologias presentes há muitos anos, como é o caso dos mencionados painéis solares, “que existem desde o século 19”. “Eles começaram com 1% de eficiência e hoje têm 35%. Além disso, pensando na atualidade, o custo de um painel solar caiu para 1/5 do que era em 2010. O avanço, agora, é exponencial”, sentencia.

“Um grande desafio do setor energético é a conciliação entre respeito, cada vez mais necessário, pelo meio ambiente, e os projetos bem-sucedidos em termos econômicos. Esta quadratura, no contexto atual, é muito desafiadora”, pontuou João Marques da Cruz, CEO da EDP Brasil. Dantas completou, afirmando que, do ponto de vista tecnológico, a área de transmissão de energia também enfrenta um grande desafio neste cenário.

“Temos um gargalo na transmissão. Hoje em dia existem filas, de até seis anos, em projetos na Europa e nos Estados Unidos, para transmitir energia de um determinado ponto a outro. Para evoluir, precisamos de uma série de tecnologias, como o grid enhancement” — Juliano Dantas, VP de Inovação Eletrobras

Dantas também sublinhou que “se estima serem necessários 50 trilhões de dólares para se efetuar a transição energética, mas, desse valor, 18 trilhões seriam gastos em adaptações na transmissão. O desafio é saber colocar os sinais de preço e os incentivos adequados para garantir geração e armazenamento conciliando os interesses ambientais”, pontuou.

área de saneamento do ponto de vista da sustentabilidade também teve espaço nas tendências em utilities na Web Summit Rio com a palestra de Anna Luísa Beserra, fundadora do Sustainable Development & Water for All. A instituição, que já tem mais de 20 projetos no Norte e Nordeste do Brasil e conseguiu um SROI (Retorno Social do Investimento) de mais de 90 milhões de reais.

Para cada real que investimos em saneamento, devolvemos 27 reais para a sociedade e poder público. Isso porque ele impacta não apenas a todo sistema de saúde, mas o de educação também, já que a falta de água e o seu não-tratamento influencia no rendimento escolar das crianças e na economia em geral”, destacou Anna Luísa, relembrando que mais de dois bilhões de pessoas no mundo não têm acesso a água potável.

Inteligência artificial: da estratégia ao resultado

inteligência artificial (IA), especialmente a generativa (genAI), foi o tema que atravessou diversas trilhas de conhecimento do evento, da estratégia inicial ao relacionamento ao cliente, passando pela ética e regulamentação. Em quase todos, palestrantes se dividiam entre as vantagens e os riscos de seu uso, algo que também se pode aplicar às tendências em utilities.

Renata Bokel, CEO da W/McCann, ao falar de tendências de Marketing para 2025, destacou que a IA pode deixar o trabalho das empresas “mais eficiente, menos burocrático e mais focado na criatividade e no que realmente importa”. “Destrave seu medo dessas inteligências”, aconselhou.

No mesmo painel, Jeff Geheb, Chief Experience Officer da VMLY&R, acha que estamos vivendo um momento “mais empolgante do que atemorizante” em relação a tecnologia. Ele ressalta, no entanto, que é importante saber o que fazer com tantos dados, para que não se desperdicem oportunidades.

Do ponto de vista empresarial, Geheb acredita que “o storytelling nunca teve tanto poder”, mas também que “nunca foi tão mal compreendido”. “Precisamos aproveitar seus diversos formatos, das redes sociais à experiência imersiva, com vestíveis, para levar o conteúdo aos melhores lugares para as marcas”, afirmou.

Rodrigo Marques, da Claro (no telão), Luiza Trajano (Magalu) e Marcelo Braga (IBM) falam da utilização de IA em empresas (Foto: Codex Utilities)

Marcelo Braga, presidente da IBM Brasil, em palestra sobre como a IA está transformando negócios e a força de trabalho, relembrou que a IA é utilizada já há muitos anos e que essa tecnologia “não resolve todos os problemas do mundo”. “Não se trata de ser mais rápido, melhor ou mais barata e sim de nos permitir fazer coisas que nunca se pensou fazer antes”.

No caso de empresas, Braga acredita que a IA pode atuar em duas grandes frentes: na melhoria do atendimento ao cliente, já que os robôs cada vez mais “aprendem” e entendem padrões de linguagem, podendo de fato personalizar o atendimento; e na experiência dos funcionários da empresa, “simplificando processos, desmaterializando ferramentas e automatizando atividades”.

“Antes, tínhamos que estudar os sistemas para entendê-los. Agora, é a vez de os sistemas entenderem o que queremos. Isso é uma mudança enorme de paradigma, que transforma completamente a forma de fazer negócios” — Marcelo Braga (IBM Brasil)

Para Rodrigo Marques, diretor de estratégia da Claro, a IA generativa é particularmente útil para empresas em três grandes áreas: na já mencionada melhoria da experiência do cliente, “com personalização e customizações realmente significativas e que possam ser realizadas em escala”; no desenvolvimento de um negócio, “como a criação de novas oportunidades e mercados”, dando como exemplo o segmento de anúncios, a Claro Ads, criada para empresas que querem anunciar; e no incremento da produtividade nos processos internos.

Mate Pencz, CEO da Loft, vê com olhos otimistas a adoção da nova tecnologia, apesar de demonstrar preocupação com a velocidade das transformações provocadas por ela. “A IA gera uma capacidade de processar dados em alta escala por uma fração do custo que tínhamos antes. Não há área em que a gente não consiga se beneficiar em termos de custo e receita, e de viabilizar novos produtos” afirmou.

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Riscos e perigos da IA generativa para pessoas e empresas

A cofundadora da fintech TBD, Emily Chiu, no painel “Liderança na era da IA”, destacou as vantagens de produtividade e eficiência da inteligência artificial, mas ressaltou o poder que ela tem de “quebrar a internet” se mal utilizada, dando como exemplo o caso de um CFO criado em deep fake que poderia ter arriscado milhões em recursos da empresa.

Luiza Trajano fala dos perigos empresariais do deep fake (Foto: Web Summit)

Luiza Trajano, presidente do conselho da rede de varejo Magalu, viveu esse perigo na pele. Em sua participação no painel “O digital em primeiro lugar: a nova economia brasileira”, ela revelou que recentemente fizeram um deep fake dela anunciando prêmios em todas as lojas. “Essa tecnologia tem um lado muito positivo, que realmente vai facilitar, e tem esse lado de que nem todo conteúdo é tão bom assim, mas que as pessoas levam a sério”, alertou.

Por sua parte, Marcelo Braga, presidente da IBM Brasil, destacou o aspecto da governança de dados e ponderou que “a IA não conhece a LGBD”. “É fundamental treinar as máquinas para garantir privacidade e evitar vieses que prejudiquem grupos”, completou.

Emily Chiu também demonstrou preocupação com a privacidade de dados, lembrando que os prompts escritos no ChatGPT, assim como as buscas em mecanismos tradicionais, também geram informações pessoais a partir do que se pergunta. “Imagine alguém tendo acesso a tudo o que você já precisou perguntar?”, provocou.

Fábio Coelho, presidente de uma das big techs que investem em IA e que também coletam dados, o Google, participou do painel “Aproveitando a IA para um futuro mais brilhante”. Ele sublinhou que “todas as empresas têm responsabilidade no trabalho contra a misinformation (desinformação)”. “No nosso caso, fazemos isso priorizando conteúdo de qualidade, removendo rapidamente o de baixa qualidade e respeitando decisões judiciais. A internet não é um espaço em que vale tudo”, sentenciou.

Fábio Coelho (Google Brasil), no palco principal da Web Summit (Foto: Web Summit Rio)

Para Coelho, a IA ajuda, de fato a aumentar a produtividade e aumentar a receita, mas também auxilia por apresentar novas formas de resolver problemas. “A tecnologia empodera, encurta distâncias e aumenta o conhecimento. Ela empoderou, primeiro, com os celulares, que permitiram as pessoas ‘existirem’ e serem contactadas individualmente; depois, houve a democratização das mídias, do empreendedorismo e, agora, há a democratização dos sistemas financeiros”, exemplificou.

Humanização do B2B, tendências em utilities e o Brasil no cenário tecnológico

Diversidade, inclusão e humanização também foram temas que tiveram muito espaço na conferência. O próprio evento fez questão de destacar os incentivos para a maior participação de mulheres na conferência, como forma de mitigar a baixa representatividade desse grupo na área de tecnologia. Esta edição contou com a maior presença de mulheres fundadoras de empresa da história da Web Summit, com 45%. Além disso, as mulheres representaram 47,5% dos participantes e 39% dos palestrantes.

          Justina Nixon-Saintill (IBM) fala da inclusão tecnológica de grupos minoritários (Foto: Codex Utilities)

Uma delas foi Carolina Nucci, do Women in Business, que mostrou como o customer centricity pode guiar um ABM (Acount-Based Marketing) vitorioso, outra das tendências em utilities. Em sua palestra “Humanizando o B2B”, ela sublinhou como as interações pessoais significativas e o foco na jornada do cliente ajudam a redefinir o sucesso das métricas e a criar relacionamentos duradouros.

Nucci também destacou que a humanização “vem de dentro para fora”, ou seja, começa entre os funcionários da empresa. Também ressaltou que a humanização envolve aspectos como conhecer bem as pessoas por trás das empresas clientes e que a tecnologia, conhecida por “esfriar” as relações humanas, pode auxiliar na geração de insights e primeiras aproximações, como é o caso do LinkedIn e de ferramentas de IA.

“O ABM e a humanização do B2B representam mais uma mentalidade do que um projeto. É algo de longo prazo, pois sucesso é medido também pelo avanço na jornada do cliente e não apenas pelas vendas imediatas”, sentenciou.

Por sua vez, Justina Nixon-Saintil, Chief Impact Officer da IBM global, declarou sua preocupação em relação a grupos minoritários que podem estar sendo deixados de fora dessa revolução tecnológica e apresentou uma plataforma da empresa, a IBM SkillsBuild que tem como objetivo essa inclusão de forma educacional. Ela palestrou junto com Marcelo Braga, presidente da IBM Brasil. “Precisamos ter a certeza de que temos as pessoas certas à mesa na hora de tomar decisões de tanto impacto”, ressaltou Justina.

Gilberto Gil fala sobre a relação da cultura com a tecnologia (Foto: Web Summit Rio)

A empresária Luiza Trajano, uma das mais aplaudidas do evento, falou sobre o papel do Brasil nesse cenário da nova economia e relatou que os negócios precisam estar alinhados com as novas tecnologias para sobreviverem.

“O (negócio) físico não vai acabar no Brasil. Mas precisa andar junto com o digital. O digital é uma cultura, que vai além de software e hardware.” — Luiza Trajano (Magalu)

Outro palestrante prestigiado foi o cantor Gilberto Gil, convidado para participar do painel “Tecnologia e cultura: moldando a imagem global do Brasil”. Nosso destino é informar o mundo sobre uma nova forma de encarar a natureza, a linguagem, a espiritualidade, uma nova forma de encarar o convívio entre as pessoas, a construção de uma sociedade”, pontuou o artista.

“O Brasil tem que dar exemplo para o mundo dessa construção de sociedade. Temos uma capacidade rápida de apropriação, no melhor sentido da palavra, de todas essas novas possibilidades, esse novo instrumental que é o que reúne a nós todos aqui, as novas tecnologias”, concluiu Gil.

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